O ano de 2020 já é oficialmente um ano de La Niña, fase negativa do principal padrão de teleconexão terrestre, o El Niño-Oscilação Sul (ENOS). Desde sua formação em agosto houve muitas especulações a respeito de sua intensidade, muitos especialistas e modelos numéricos apostavam num evento pouco significativo, de intensidade fraca. Porém, as apostas mudaram!
Na última semana a região do Niño 3.4 (localizada no Pacífico Tropical entre 170°O e 120°O de longitude), principal região de utilizamos para monitorar as anomalias associadas ao ENOS, registrou uma anomalia de -1.4°C. Esse valor é considerado bem intenso e já indica uma intensidade moderada da atual La Niña, beirando a intensidade forte. Um evento de La Niña é considerado moderado quando as anomalias do Niño 3.4 ficam entorno de -1 a -1.5°C, abaixo de -1.5°C é considerado como forte!
The latest weekly Nino3.4 SST anomaly is -1.4ºC, which is within the moderate La Niña range. This map and more in our data library: https://t.co/sxpdQ5lhvl. + More about ENSO: https://t.co/GldQNBgs3D. pic.twitter.com/4VsH0u5fXk
— IRI (@climatesociety) October 20, 2020
Após essa intensificação do resfriamento das águas superficiais e a confirmação da resposta atmosférica a esse resfriamento, caracterizada pela intensificação dos ventos alísios e os valores positivos do Índice Oscilação Sul (SOI, sigla em inglês), as projeções mudaram!
Agora, muitos dos modelos usados nas previsões do IRI e C preveem anomalias condizentes a um evento de La Niña moderado ou até mesmo forte até o final desse ano! O modelo CFSv2, do NCEP/NOAA, é um dos modelos que aposta num evento muito intenso, com anomalias inferiores a -2°C. Porém, modelos como o ECMWF, continuam mantendo suas apostas num evento moderado, não ando de -1.5°C.
Our updated model plume with @NWSC shows movement deeper into #LaNiña territory #IRIforecast pic.twitter.com/Od4Y1vSoQq
— IRI (@climatesociety) October 15, 2020
A maioria dos modelos do IRI/C indicam que a La Niña deverá atingir seu máximo de intensidade em dezembro ou janeiro de 2021, verão no hemisfério sul, e a partir de fevereiro e março, deverá começar a perder força e gradualmente voltar a condições de neutralidade durante o outono de 2021. Dessa forma, o La Niña desse ano poderá ser forte, porém de curta duração.
Muitos estudos já foram feitos no intuito de estudar eventos ados de El Niño e La Niña e inferir seus impactos no clima global, o mais recente deles foi feito por pesquisadores do IRI e publicado na revista Weather and Forecasting no mês ado, que atualizaram antigos mapas de impactos das diferentes fases do ENOS no regime de chuvas global.
Esses mapas foram atualizados a partir de novos métodos estatísticos e 20 anos a mais de dados históricos de alta resolução, estendo o período de análise de 1951 a 2016, adicionando as análises eventos recentes de grande impacto, como o El Niño de 2015/16 e a La Niña de 2010/11.
Os impactos de La Niña e El Niño foram analisados separadamente. Além disso, os autores só consideraram os eventos mais intensos, ou seja, eventos de El Niño que registraram anomalias 1°C ou mais e eventos de La Niña que registraram anomalias de -1°C ou menos, descartando os eventos fracos que não possuem impactos tão consistentes na atmosfera.
A equipe do IRI disponibilizou esses resultados em uma plataforma interativa onde você pode visualizar os resultados probabilísticos de anomalias de chuvas para os eventos de El Niño e La Niña para todos os continentes. De acordo com os mapas desse estudo, sobre o Brasil há uma grande probabilidade da ocorrência de chuvas abaixo da média sobre partes das regiões Sudeste e Centro-Oeste e acima da média no norte da região Nordeste e norte/nordeste da região Norte, no trimestre de Novembro, Dezembro e Janeiro.