O Brasil registrou, em 2024, um feito inédito na luta contra o desmatamento: todos os biomas brasileiros apresentaram queda ou estabilidade na perda de cobertura vegetal nativa, segundo o novo Relatório Anual do Desmatamento (RAD), produzido pela iniciativa MapBiomas Alerta. Essa é a primeira vez que isso acontece desde 2019, ano em que o projeto ou a validar e publicar alertas de desmatamento em escala nacional.
Segundo o relatório, lançado em 15 de maio, a área desmatada no Brasil caiu 32,4% em comparação com 2023. No total, foram 1.242.079 hectares desmatados, resultado de 60.983 alertas validados. Além disso, o número de grandes desmatamentos — com mais de 100 hectares — também caiu 31%. Mesmo no bioma Mata Atlântica, que se manteve estável após forte redução em 2023, a tendência de retração se manteve.
A média diária de desmatamento em 2024 foi de 3.403 hectares, ou cerca de 141,8 hectares por hora. O dia com maior área desmatada foi 21 de junho, com mais de 3.500 hectares suprimidos. No bioma Amazônia, a taxa foi de 1.035 hectares por dia — o equivalente a sete árvores derrubadas por segundo. No Cerrado, a perda foi ainda mais intensa: 1.786 hectares por dia.
Pelo segundo ano consecutivo, o Cerrado foi o bioma mais desmatado, com 652.197 hectares — mais da metade de todo o desmatamento no Brasil em 2024. A região do Matopiba (formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) concentrou 75% do desmatamento do Cerrado e 42% de toda a perda nacional. Mesmo com esses números expressivos, houve redução de 40% em relação ao ano anterior.
A Amazônia ocupou o segundo lugar, com 377.708 hectares desmatados, representando 30,4% do total. Esta foi a menor área anual já registrada na série histórica do MapBiomas. A região conhecida como Amacro (Acre, Amazonas e Rondônia) também teve redução, com queda de 13% no desmatamento, totalizando 89.826 hectares.
Os dados mostram que Maranhão e Pará continuam liderando o ranking de estados mais desmatadores, concentrando juntos mais de 65% da área desmatada no país. Cidades piauienses como Canto do Buriti e Jerumenha figuraram entre as que mais aumentaram proporcionalmente suas áreas desmatadas.
A Caatinga ficou em terceiro lugar, com 174.511 hectares (14% do total), e registrou o maior alerta único da história do projeto: 13.628 hectares desmatados em um único imóvel rural no Piauí. No extremo oposto, o Pampa teve a menor área desmatada do país, com apenas 896 hectares.
O Pantanal foi o destaque em termos de queda proporcional, com redução de 58,6% na comparação com 2023. Em seguida vieram o Pampa, com 42,1%, e o Cerrado, com 41,2%. A Amazônia teve queda de 16,8% e a Caatinga, 13,4%. Na Mata Atlântica, o desmatamento ficou estável, mas teria recuado ainda mais se não fossem os eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul.
As limitações de monitoramento por satélite ainda afetam biomas como Pantanal e Pampa, devido às características de vegetação campestre e sazonalidade da cobertura.
As Terras Indígenas também apresentaram redução no desmatamento: dois terços delas não sofreram qualquer perda de vegetação. Ao todo, foram desmatados 15.938 hectares dentro dessas áreas, uma queda de 24% em relação a 2023. A TI Porquinhos dos Canela-Apãnjekra (MA) liderou com 6.208 hectares desmatados, aumento de 125% em relação ao ano anterior.
Nas Unidades de Conservação (UCs), a perda foi de 57.930 hectares, 42,5% a menos que em 2023. A Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, no Pará, liderou com 6.413 hectares, seguida pelas APAs da Serra da Ibiapaba e da Chapada do Araripe.
Além disso, estados como Goiás, Paraná, Espírito Santo e Distrito Federal apresentaram quedas expressivas — superiores a 60% — nos índices de desmatamento, mostrando que políticas locais também têm impacto direto nos resultados nacionais.
O principal vetor do desmatamento continua sendo a agropecuária, responsável por mais de 97% da perda de vegetação nativa nos últimos seis anos. O garimpo, por sua vez, concentra 99% de sua área desmatada na Amazônia. Já a Caatinga concentra a maior parte do desmatamento causado por empreendimentos de energia renovável (93%), enquanto o Cerrado lidera em áreas desmatadas pela expansão urbana (45%).
Entre 2019 e 2024, o Brasil perdeu o equivalente a todo o território da Coreia do Sul em vegetação nativa: foram 9,88 milhões de hectares suprimidos, dois terços dos quais na Amazônia Legal.
Imazon. Desmatamento caiu em todos os biomas brasileiros em 2024. 2025