Nos últimos tempos, intensos temporais vêm castigando a Venezuela, deixando consequências severas para o país. Antes dessa tragédia em Las Tejerías, que ocorreu neste domingo (9), outras 13 pessoas já tinham morrido devido às fortes chuvas, acima do normal, que atingiram o país nas últimas semanas.
Essa inundação mais recente, a pior na região em três décadas, foi considerada a mais grave deste ano até agora. Uma possível explicação para essa tragédia consiste no aumento da precariedade das construções da Venezuela.
De acordo com a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, os deslizamentos de terras em Las Tejerías, vilarejo industrial no estado de Aragua, no centro do país, deixou - até agora - mais de 20 mortos e outras 52 pessoas ainda estão desaparecidas. As buscas por vítimas continuaram nesta segunda-feira (10) e vão se estender ao longo desta semana.
A tragédia se iniciou após três horas de chuvas intensas que começaram na tarde do último sábado (8). Na ocasião, vários rios transbordaram e carregaram grandes troncos de árvores e detritos do alto das montanhas vizinhas para Las Tejerías, situada a cerca de 50 km ao sudoeste da capital Caracas. As chuvas intensas aumentaram o volume de cerca de cinco rios da região, que arrastaram lama e pedras pelo caminho.
Carros e fragmentos de casas também foram arrastados pela corrente, que subiu até seis metros nas estruturas mais próximas ao leito dos rios, muitas das quais perderam paredes. Além disso, a região está sem eletricidade e comunicação, pois as antenas das operadoras telefônicas também foram arrastadas, e o fornecimento de água e mantimentos está sendo afetado.
Debido a la grave situación producto del deslave de gran magnitud causado por las lluvias, decreté en las comunidades que conforman Las Tejerías, Zona de Desastre y Catástrofe Natural, y 3 días de duelo nacional a partir de hoy #9oct, en solidaridad con las familias afectadas. pic.twitter.com/Mb858C6EsQ
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) October 9, 2022
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, declarou três dias de luto nacional em nome das vítimas da tragédia; enquanto os venezuelanos foram às redes sociais oferecendo assistência à cidade. Ademais, Nicarágua e Bolívia ofereceram auxílio ao povo venezuelano.
De acordo com o ministro do Interior e da Justiça, almirante Remigio Ceballos Ichaso, mais de mil pessoas se juntaram aos esforços de resgate em Las Tejerías para procurar vítimas presas nos escombros, incluindo os funcionários da Agência -Presse (AFP) que participaram dessa operação.
Amid a rising death toll, rescuers in Las Tejerias, Venezuela, searched for the more than 50 missing persons after devastating floods, while Tropical Storm Julia killed at least 16 people in Central America https://t.co/sSBNeOqf4s pic.twitter.com/eDx1W6sUxP
— Reuters (@Reuters) October 10, 2022
A equipe da AFP foi a Las Tejerías e constatou a destruição de casas e estabelecimentos comerciais; sua tripulação de trabalhadores com máquinas limparam estradas cobertas de detritos e lodo da enchente. O governo afirmou que a prioridade é encontrar os desaparecidos e fornecer ajuda aos desabrigados.
José Santiago, que mora há anos em Las Tejerías, foi um dos sobreviventes que ou aproximadamente 40 minutos em cima do telhado abraçado em uma antena, enquanto a água levava sua casa e algumas outras pelo caminho. José contou que percebeu que a água estava entrando em sua casa logo após a subida simultânea dos rios; e ainda afirmou que se continuasse chovendo por mais alguns minutos, ele iria se afogar.
María Gracia Carvalhais foi outra sobrevivente da tragédia, comerciante portuguesa de 60 anos que há 58 vive na Venezuela. Ela calcula que mais de 80% do seu pequeno comércio esteja destruído, uma vez que as paredes colapsaram e seus produtos ficaram cobertos de lodo. María afirmou que estava dirigindo quando notou a presença de uma enorme nuvem negra com dois arco-íris dentro, o que chamou sua atenção.
Ramón Arvelo, um dos trabalhadores de um açougue que permaneceu fechado por dois anos devido à pandemia e estava programado para reabrir nesta segunda-feira (10), ajudou a remover a lama que cobriu e danificou os equipamentos de refrigeração e tudo mais o que havia dentro.
Deslizamentos de terras também foram registrados em outras partes do país, uma vez que a Venezuela vem enfrentando volumes históricos de chuva. De acordo com pesquisadores, a intensificação desses eventos climáticos extremos está relacionada ao aquecimento global e à atividade humana.