A mecânica quântica tem intrigado cientistas e filósofos por mais de cem anos. Um dos seus experimentos mentais mais famosos, o Gato de Schrödinger, consiste em um gato que depende do decaimento de um átomo radioativo para viver ou morrer.
Claro que um gato real não pode estar vivo e morto ao mesmo tempo, mas o conceito é frequentemente usado para descrever se uma maneira mais popular e fácil de entender um conceito extremamente complexo, que é a superposição de estados quânticos.
No entanto, uma equipe de cientistas descobriu que esse experimento mental pode ser extremamente útil em situações reais. Utilizando um átomo de antimônio (que é muito mais complexo do que os qubits tradicionais usados em computação quântica) para representar o gato, a equipe conseguiu recriar o experimento.
O átomo de antimônio possui um grande spin nuclear, o que significa que ele tem múltiplos estados magnéticos possíveis, ao invés vez de apenas dois. Isso transforma radicalmente o comportamento do sistema. A superposição do spin do antimônio, que pode apontar em oito direções diferentes, cria um estado quântico mais resistente a erros.
No caso do antimônio, se o estado 0 representa um “gato morto” e o estado 1 representa um “gato vivo”, seria necessário um número significativo de erros consecutivos para alterar completamente a informação. É como se o gato metafórico do experimento tivesse sete vidas.
Esse “gato de Schrödinger” de antimônio foi integrado a um chip quântico de silício, similar aos usados em computadores e smartphones, mas adaptado para manipular estados quânticos de átomos individuais. Assim, os cientistas podem controlar com precisão seu estado quântico – ou, se preferir, sua vida e morte.
Esse avanço abre caminho para uma nova forma de realizar cálculos quânticos, onde há mais margem para correção de erros. Caso um erro ocorra, será possível detectá-lo imediatamente e corrigi-lo antes que outros erros se acumulem.
A capacidade de detectar e corrigir erros quânticos é considerado o Santo Graal da computação quântica, e a equipe planeja explorar essa aplicação em seus próximos estudos - possivelmente abrindo as portas para resolver um dos principais desafios para a criação de computadores quânticos funcionais.
Schrödinger cat states of a nuclear spin qudit in silicon. Nat. Phys. (2025). Yu, X., Wilhelm, B., Holmes, D. et al.