A água potável é um fator importante para a nossa sobrevivência. É essencial para nossas tarefas do dia-a-dia, para tomar banho, beber, etc. É um recurso finito e que está em demanda crescente e, infelizmente, nem todos têm o a ela, sendo as comunidades mais pobres as mais afetadas.
O fornecimento de água limpa é um grande desafio hoje, devido, principalmente, ao crescimento da população mundial e à poluição das fontes de água doce. De acordo com a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), mais de 2 bilhões de pessoas vivem em países onde o abastecimento é inadequado, e metade da população mundial poderá viver em áreas com escassez de água já em 2025.
Buscando alternativas, alguns cientistas se reuniram e desenvolveram uma solução rápida e de baixo custo para suprir as necessidades dos que vivem sem água potável.
Recentemente, pesquisadores da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, EUA, criaram um hidrogel que transforma a água contaminada em água limpa através do calor do Sol. Essa invenção foi publicada em um artigo na revista ACS Central Science.
Eles chamaram o dispositivo de ‘gel absorvente solar inspirado na bucha’, pois é baseado no núcleo seco da bucha, aquele objeto usado como esponja nos banhos. De acordo com os autores, a inspiração serviu para reconfigurar a estrutura dos poros do hidrogel para facilitar um transporte mais rápido da água, superando a desvantagem mais limitante dos hidrogéis convencionais.
A bucha natural tem poros grandes, abertos e interconectados, e graças a essa estrutura ela pode absorver grandes quantidades de água muito rapidamente. Dessa forma, o hidrogel imita a sua estrutura, filtrando contaminantes à medida que a água entra nele.
O novo hidrogel foi produzido em temperatura ambiente via processamento aquoso, usando uma mistura de etilenoglicol e água como meio de polimerização, o que dá a característica de bucha. Ele consegue purificar água suficiente para atender às necessidades diárias de uma pessoa.
O gel é composto por um polímero conhecido como poli(N-isopropilacrilamida), um material sensível ao calor. Quando exposto ao calor, ele muda do estado hidrofílico (que atrai água) para o estado hidrofóbico (que repele a água). Isso permite uma rápida e grande liberação de água.
Quando isso ocorre, ele expele a maior parte da água em menos de cinco minutos e pequenos contaminantes do líquido, como corantes químicos, microplásticos ou óleo, ficam presos na matriz polimérica do material, tornando a água mais limpa.
Os pesquisadores demonstraram que o hidrogel absorvia água em temperatura ambiente e, quando aquecido, liberava cerca de 70% da água armazenada em 10 minutos – quatro vezes mais que outros géis absorventes. Com menor intensidade de luz, levou de 15 a 20 minutos para o hidrogel liberar a mesma quantidade de água.
Os pesquisadores acreditam que a sua invenção é uma forma simples e eficiente, além de sustentável, para purificar a água contaminada em regiões do mundo que não possuem infraestrutura para tal.
De início, eles imaginam uma versão pequena para residências individuais. Mas gostariam de ver o dispositivo sendo usado a nível industrial. “Queremos pensar em grande escala”, disse Xiaohui Xu, engenheiro químico e coautor do estudo, em entrevista ao site Inverse.
“No futuro, nosso gel pode ser dimensionado para se tornar uma opção atraente para a purificação de água de uso doméstico. A curto prazo, ele poderia ser utilizado em catástrofes e emergências para fornecer água limpa em abundância, sem depender de energia elétrica”, complementa o professor Rodney Priestley, autor do estudo.
Eles também gostariam de melhorar as capacidades do gel para que conseguisse degradar moléculas nocivas, como as dos corantes, e quem sabe até desenvolver uma versão que filtre o sal da água do mar, tornando-a potável.