Restaurar para prosperar: o pacto pela Mata Atlântica e a virada verde que começa nas fazendas

Milhares de hectares de Mata Atlântica voltam a crescer graças ao PACTO, rede que une ONGs, universidades e produtores rurais para fornecer apoio técnico, mudas e financiamento, transformando áreas degradadas em florestas produtivas, biodiversas, resilientes e protegidas.

Mata atlantica, Rio de Janeiro
Propriedade rural na região de Petrópolis (RJ) emprega sistemas agroflorestais que conciliam produção de alimentos e restauração da Mata Atlântica.

A Mata Atlântica já cobriu um terço do território brasileiro, mas hoje restam menos de 15 % da floresta original. Nos últimos anos, entretanto, um esforço coordenado de universidades, ONGs e órgãos públicos vem mostrando que é possível inverter essa curva de perda florestal. O Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (PACTO), articulado por mais de 250 parceiros, entre eles a Conservation International Brasil, a Oregon State University e o Atlantic Forest Restoration Pact, sai do discurso e planta literalmente novas florestas em terras privadas

Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Oregon State University e da Amherst College mostra que, onde o programa chegou, a área de floresta restaurada cresceu até 20 pontos percentuais em comparação com fazendas semelhantes que ficaram de fora do projeto.

Lançado em 2009, o PACTO funciona como uma rede de conhecimento e apoio técnico-financeiro para proprietários rurais que precisam recuperar parte de suas terras, seja para cumprir o Código Florestal, seja para melhorar a oferta de água e diversificar a produção.

O desafio da restauração

Recuperar floresta não é simplesmente “deixar a natureza agir”. Em muitas regiões da Mata Atlântica, o solo está degradado por décadas de pastagem, as sementes nativas sumiram e espécies exóticas competem com as plântulas. Além disso, plantar árvores custa caro: estima-se que a restauração ativa, aquela em que o produtor aduba o solo, compra mudas e mantém a área limpa de pragas, possa chegar a oito mil dólares por hectare nos primeiros anos.

PACTO, mata, produtores rurais
Equipe do PACTO orienta produtores durante o plantio de mudas nativas, etapa que combina assistência técnica, insumos subsidiados e capacitação local para acelerar a restauração em áreas de pastagem degradada.

Há também um obstáculo invisível: o custo de oportunidade. No cinturão agrícola de São Paulo ou do Paraná, reservar 20 % da propriedade para floresta significa abrir mão de soja, cana ou eucalipto. Por isso, o estudo ressaltou que o impacto do PACTO foi maior em fazendas mais distantes dos grandes centros urbanos, onde a terra é mais barata e a pressão de mercado é menor. Mesmo assim, a participação depende de estímulos concretos, e é aí que entram as instituições que sustentam o programa.

Como o PACTO faz acontecer

O PACTO atua como uma ponte entre ciência e roça, oferecendo soluções que vão muito além do simples fornecimento de mudas.

  • Assistência técnica personalizada: agrônomos e biólogos visitam cada propriedade para definir o mix de espécies e o método de plantio mais adequado.
  • Financiamento ou doação de insumos: ONGs parceiras ream sementes, adubo orgânico e até cercas para proteger as áreas em restauração.
  • Treinamento de mão de obra local: moradores aprendem a coletar sementes, manejar viveiros e fazer o plantio correto, criando emprego na própria comunidade.
  • Monitoramento e transparência: drones e imagens de satélite alimentam relatórios públicos, garantindo que o reflorestamento realmente aconteça e perdure.

A pesquisa revela que, onde esses serviços chegaram, a floresta não só voltou a crescer, como também houve redução de multas ambientais, já que os proprietários aram a cumprir as exigências legais com menor risco financeiro.

Por que isso importa para o futuro

Os benefícios de restaurar a Mata Atlântica extrapolam as cercas das fazendas. Uma floresta em crescimento melhora a infiltração de água no solo, reduz a erosão que assoreia rios e até refresca o microclima local, ajudando a mitigar ondas de calor. Para cidades como Salvador ou Curitiba, que dependem de mananciais na Mata Atlântica, florestas saudáveis significam abastecimento mais seguro e tratamento de água mais barato.

Além disso, o PACTO demonstra que a restauração pode ser socialmente justa. Ao envolver pequenos produtores, o programa oferece alternativas de renda, como o cultivo de frutíferas nativas ou sistemas agroflorestais que produzem madeira de manejo sustentável. Isso cria um ciclo virtuoso: terras antes subaproveitadas viram fonte de receita, a biodiversidade se recupera e o clima ganha um aliado na captura de carbono.

Referência da notícia

Evidence on scaling forest restoration from the Atlantic Forest Restoration Pact in Brazil. 21 de maio, 2025. Toto, R., Alix-García, J., Sims, K.R.E. et al.