Revolução no mapeamento florestal com drones e inteligência artificial

Com uso de drones e inteligência artificial, projeto da Embrapa mapeia castanheiras e outras espécies na Amazônia, reduz custos, facilita a coleta e fortalece o extrativismo sustentável na região.

Castanheira na Reserva Extrativista do Rio Cajari, no Amapá — Foto: Marcelino Guedes/Embrapa
Castanheira na Reserva Extrativista do Rio Cajari, no Amapá. Crédito: Marcelino Guedes/Embrapa

A Amazônia ganhou um poderoso aliado na preservação de suas florestas: a inteligência artificial. Utilizando drones e a metodologia Netflora, desenvolvida pela Embrapa Acre, pesquisadores identificaram 604 castanheiras-da-amazônia (Bertholletia excelsa) e mais de 14 mil outras árvores em apenas duas horas de sobrevoo na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, no Amazonas. A área mapeada foi de 1.150 hectares.

Esse feito representa um avanço impressionante em relação às técnicas tradicionais, que demandam cerca de 73 dias de trabalho e uma equipe de cinco pessoas para mapear o mesmo território. A ação faz parte do Projeto Geoflora, parceria entre a Embrapa Amazônia Ocidental e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema/AM), com apoio financeiro do Fundo JBS pela Amazônia.

Segundo o pesquisador Evandro Orfanó, a aplicação da IA conecta o conhecimento científico às práticas tradicionais das comunidades extrativistas, tornando o manejo florestal mais sustentável e eficiente.

Aplicativo leva tecnologia aos extrativistas e reduz esforço físico

Para tornar a inovação ível aos moradores da RDS do Uatumã, um aplicativo de celular está sendo disponibilizado com dados detalhados do inventário digital. A ferramenta inclui planilhas, mapas e localização precisa das árvores, permitindo que os extrativistas “naveguem” pela floresta como se usassem aplicativos de mapas urbanos.

A inovação reduz cerca de 90% dos custos em relação a inventários florestais tradicionais. Ao mesmo tempo em que aumenta a precisão e a eficiência do monitoramento ambiental. Crédito: Caio Alexandre Santos/Embrapa
A inovação reduz cerca de 90% dos custos em relação a inventários florestais tradicionais. Ao mesmo tempo em que aumenta a precisão e a eficiência do monitoramento ambiental. Crédito: Caio Alexandre Santos/Embrapa

Cada árvore mapeada possui um “endereço” com coordenadas geográficas, facilitando o trabalho de coleta. Além de otimizar o tempo, o sistema reduz o esforço físico dos trabalhadores, evitando caminhadas longas e contribuindo para a preservação do meio ambiente.

O Netflora, que já mapeou mais de 70 mil hectares de floresta, também criou um vasto banco de dados com imagens de espécies captadas por drones com câmeras RGB. A tecnologia permite mapear até 3.500 hectares por dia, a uma velocidade de 2 hectares por segundo, com redução de até 90% nos custos operacionais.

Castanha-da-amazônia impulsiona bioeconomia e saúde dos trabalhadores

A castanha-da-Amazônia é um dos principais pilares econômicos das comunidades amazônicas. Para fortalecer essa atividade, a Embrapa Amazônia Ocidental, por meio da pesquisadora Kátia Emídio da Silva, lidera o projeto “Otimização da Coleta Extrativista da Castanha-do-Brasil”, financiado pela Fapeam.

Uma das inovações em teste é a instalação de cabos aéreos, semelhantes a tirolesas, para transportar castanhas em regiões de difícil o.

Com os dados gerados pelo Netflora, é possível planejar com precisão onde esses cabos devem ser instalados, aumentando as áreas de coleta e reduzindo os riscos à saúde dos extrativistas. A proposta é tornar a atividade menos exaustiva e mais produtiva.

Tecnologia atrai jovens e amplia o uso sustentável da floresta

A introdução dessas tecnologias também busca atrair jovens para o extrativismo, atividade que muitos evitam devido ao esforço físico exigido.

Cerca de um ano após o seu lançamento, Netflora já mapeou mais de 70 mil hectares de florestas na Amazônia. Imagem: Evandro Orfano
Cerca de um ano após o seu lançamento, Netflora já mapeou mais de 70 mil hectares de florestas na Amazônia. Crédito: Evandro Orfanó

O avanço do Netflora permite o reconhecimento automático de espécies com base em padrões regionais, mesmo em áreas nunca mapeadas antes.

Além da castanha, o mapeamento com IA identificou espécies de valor comercial como breu, baru e copaíba, que agora poderão ser manejadas de forma sustentável.

Árvores mortas, clareiras e novas espécies também estão sendo identificadas com o cruzamento de dados de drones e registros anteriores, ampliando o conhecimento sobre a biodiversidade da floresta.

Como ar e utilizar o Netflora

O Netflora está disponível gratuitamente no repositório GitHub e pode ser utilizado por meio da plataforma Google Colab. A Embrapa também oferece um curso gratuito na plataforma e-Campo, com orientações o a o para a utilização da ferramenta.

Com essa iniciativa, a ciência avança lado a lado com as populações tradicionais, promovendo o desenvolvimento sustentável e o uso inteligente dos recursos naturais da Amazônia.

Referência da notícia

IA identifica mais de 600 castanheiras nativas na Amazônia. 28 de abril, 2025.Henrique Rodarte.